quinta-feira, 8 de maio de 2008

O poder da escrita

E o rei replicou: "Incomparável mestre em artes, oh Theuth (O tekhnikótatú Theúth), uma coisa é o homem capaz de trazer à luz a fundação de uma arte, outra aquele que é capaz de apreciar o que esta arte comporta de prejuízo ou utilidade para os homens que deverão fazer uso dela. Neste momento, eis que em tua qualidade de pai dos caracteres da escrita (patér òn grammáton), atribuíste-lhes, por complacência para com eles, todo o contrário (tounatíon) de seus verdadeiros efeitos! Pois este conhecimento terá, como resultado, naqueles que o terão adquirido, tornar suas almas esquecidas uma vez que cessarão de exercer sua memória [...] Não é, pois, para a memória, mas para a rememoração que tu descobriste um remédio (oúkoun mnémes, allà hupomnéseos, phármakon heûres). Quanto à instrução (Sophías dè), é a aparência (dóxan) dela que ofereces a teus alunos, e não a realidade (alétheian): quando, com efeito, com tua ajuda, eles transbordarem de conhecimentos sem terem recebido ensinamento, parecerão bons para julgar muitas coisas, quando, na maior parte do tempo, estarão privados de todo julgamento; e serão, além disso, insuportáveis, já que terão a aparência de homens instruídos (doxóphoi) em vez de serem homens instruídos (anti sophôn)"!
Fedro, 274 e 275b, apud Derrida, 1997, p. 49.

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